escrevo como quem celebra
os 7 anos de existência do Ninho de Escritores \o/
tempo de escrita: 7 horas (senta que lá vem história)
tempo de leitura do email: 14 min
dá pra ouvir também aqui.
no domingo, dia 7, o Ninho de Escritores completou 7 anos. e uau, falando agora em voz alta (esse foi um daqueles e-mails que escrevi falando, como já contei antes que faço) tô me dando conta desse portal numérico.
dizem que o número 7 é bem significativo, vide os setênios da antroposofia, e eu tô aqui, no dia 17, às 11:07, escrevendo essa carta de celebração. magia pura.
não consegui pensar em outro jeito de celebrar a existência dele que não fosse escrevendo sobre. meu presente pro Ninho é uma história.
a história de como esse projeto se cruza em vários momentos com a minha vida e se torna tão importante pros movimentos que eu tenho feito. a história de como o Ninho conversa tanto com meu coração por ser essa iniciativa que potencializa muita vida nas nossas vidas.
como disse Tales, na newsleter do Ninho (que aliás, vale acompanhar) tudo começou como uma ideia de uma pessoa sozinha - do próprio Tales, que foi quem o criou em 2014 - e se tornou uma comunidade de pessoas que dedicam tempo e energia para apoiarem a si e a outros no ofício da escrita.
eu passei a fazer parte, como facilitadora nessa comunidade, há mais ou menos uns 3 anos. mas fato é que nossas histórias se cruzaram bem antes.
como toda história que se preze, vale começar pelo “era uma vez…”
Era uma vez, um espaço colaborativo chamado Laboriosa 89, onde pessoas - as mais diversas possíveis - se propuseram a experimentar interações mais colaborativas, acolhedoras e não centralizadas.
essa experiência foi um divisor de águas na vida de muita gente (a minha inclusa) e as iniciativas que brotaram por lá reverberam até hoje. sempre digo que a casa acabou, mas deixou um tantão de gente com as chaves de muitas portas a serem abertas mundo à fora.
disso isso pq na Lab, que se propunha a ser um experimento de descentralização e distribuição de poder, qualquer um podia copiar a chave e entrar quando quisesse. só não valia impedir o movimento dos outros. de resto era só experimentar como fazer essa convivência funcionar, com suas alegrias e dores.
o Ninho nasceu dentro desse contexto, também pela vivência do Tales dentro do Estaleiro Liberdade (que era um projeto que o meu companheiro de vida - Daniel Larusso - organizava junto com outras pessoas), onde os encontros eram pensados para criar um espaço de acolhimento e experimentação. o Tales sentiu que precisava de um espaço como esse pra se experimentar mais na escrita e decidiu parir o Ninho.
foi nessa época que eu conheci o Tales (e o Dani - num falei que esse espaço foi importante demais na minha vida, até conheci um grande amor), mas andava envolvida com outras temáticas (o Roupa Livre tbm foi fihote da Lab) e desde então a gente seguiu se acompanhando, mas naquela admiração que aproxima mesmo quando à distância.
anos depois me tornei sócia de uma livraria feminista. e, assim que aceitei esse convite, sabia que eu só ia conseguir me envolver em um negócio num modelo tradicional, focado na venda de itens, se ele propusesse algo pra além disso - mesmo que esses itens fossem livros e, ao contrário do que acontece com as roupas - que era o nicho de consumo que eu questionava na época - a gnt precisa de muito mais leituras circulando pra transformar esse mundão.
pra que a Livras - ainda amo esse nome - fosse um sonho que me contemplasse tbm, afinal fui convidada por outras 2 sócias que já estavam trabalhando na ideia antes de eu chegar, teria que ser um espaço que, pra além de só vender livros escritos por mulheres, fosse um lugar onde as mulheres pudessem se tornar tbm protagonistas de suas próprias histórias.
foi com essa intenção que fui procurar o Tales, o amigo que eu sabia que tinha mais experiência facilitando encontros de escrita, pq desde que o Ninho nasceu ele seguiu ativo, pra me dar uma luz. como que fazia isso de organizar oficinas de escrita? por onde começar? o que era importante de cuidar?
ele não só topou me apoiar nessa jornada como me deu um grande presente: o voto de confiança de me tornar facilitadora dos encontros do Ninho, que, pelo contexto da livraria, seria exclusivo para mulheres e seaqui em Floripa. ele me explicou como funcionavam as práticas, contou das suas experiências e deu a estrutura que eu precisava pra bancar puxar esses encontros.
eu vinha de uma temporada de 1 ano trabalhando em uma comunidade de desenvolvimento pessoal para mulheres, a Comum (junto com mulheres que conheci na Lab), e já tinha alguma experiência - até pelas oficinas do RL também - em facilitar encontros em grupo. mas agora era diferente.
me sentia insegura pra conduzir encontros sobre escrita pq, afinal de contas, eu não era uma escritora! mesmo que escrever sempre tivesse sido algo muito importante pra mim desde sempre (aliás, mt mais do que roupas, vê só) não me sentia com propriedade pra falar do assunto. só que o fato dele ter confiado em mim fez com que eu confiasse tbm. e esse foi meu primeiro aprendizado sobre como o apoio é fundamental pra criar as nossas histórias, seja no papel ou na vida.
assim a Livras foi palco de momentos muito preciosos. que saudade que eu tenho. organizamos vários eventos e era uma potência só, estar reunida entre mulheres no meio daqueles livros incríveis. quando escrevíamos ali era como se não estivessemos só nós na sala, mas sim rodeadas pela companhia de Audre Lorde, Chimamanda, Natalia Borges, Carolina de Jesus, Djamila Ribeiro e tantas outras mulheres potentes que preenchiam nossas prateleiras.
a livraria acabou 6 meses depois de começar - por N motivos que valem uma outra história - mas ela me trouxe algo que eu tava buscando há muito tempo: apoio e espaço de prática pra que eu pudesse criar com alguma consistência.
conduzir o Ninho me fez começar a investigar mais a fundo a minha própria criação artística e eu segui organizando os encontros para além da livraria.
lá se vão quase 3 anos desse início e eu sigo com a sensação de que não agradeci ao Tales o suficiente por este presente.
sou muito apaixonada por esse projeto e me alegra muito ver ele completando 7 anos. me alegra muito acompanhar os movimentos recentes de expansão (não tanto pelo sentido do crescimento, como se tudo fosse obrigado a crescer-crescer-crescer e conquistar mais e mais, mas sim pelo florescimento das sementes plantadas lá atrás), com as atividades de desafios de escrita rolando pelo grupo do Telegram ou no Medium, e também pelos clubes de leitura que começaram há pouco tempo.
e, claro, me alegra muito também ver o movimento de florescimento do grupo que eu facilito. no início da pandemia resolvi puxar 2 encontros on-line de “escrita para lidar com as emoções”, seguindo os princípios do Ninho, e o grupo não quis mais parar de se encontrar. algumas pessoas saíram, outras entraram, mas seguimos conectadas. desde então nos vemos toda semana, às segundas-feiras, pra gente praticar juntas a apreciação e a escuta e estar num espaço onde a gnt pode se sentir acolhida para expressar nossas dúvidas, ideias e sonhos.
já publicamos três coletâneas de textos - a quarta está no forno - e também participamos de duas edições da Revista Texturas com alguns textos nossos.
mas com certeza as principais transformações estão dentro da gente. afinal, tudo que praticamos através da escrita podemos levar pra todas as outras áreas da vida.
(olhar com o olhar apreciativo pro Summer, o cachorro que adotamos faz pouco, por exemplo, possibilitou construir a convivência com ele mesmo nos momentos mais difíceis - e olha, foram muitos. ele tem sido prática constante de apreciação.)
os princípios do Ninho são aspirações que eu sempre quis levar pra vida e não tinha ideia de como colocar em prática. tendo um encontro semanal pra praticar o não-julgamento e a libertação de culpas inexistentes, percebo o quanto essa postura vai se espalhando por todos os outros dias da vida.
são princípios que hj aparecem em praticamente todos os meus trabalhos, seja nas mentorias individuais de comunicação ou no clube de criadoras - que foi praticamente uma adaptação dos encontros do Ninho, pensado para quem tem o objetivo de criar conteúdo e comunicar sobre seus projetos.
esse clube agora tá acontecendo em parceria com a fefe resende, que faz um trabalho lindo apoiando as pessoas em suas comunicações pessoais, e está sendo um match muito potente esse nosso. e, aliás, tem vaga pra quem quiser vir junto com a gente setembro, tudo explicadinho aqui:
o Ninho nasceu pq o Tales sentia que precisava desse espaço e eu sinto que puxo os encontros pelo exato mesmo motivo.
não puxamos o encontros num lugar de professores. estamos num lugar de quem sabe o quão importante um espaço desses é, pra vida, e por isso a gente faz questão de agir para que ele exista. é só (tudo) isso.
fui me entendendo escritora (sim!) com os encontros do Ninho. essa autoconfiança me abriu caminho pra explorar outras linguagens, como a música, e, mais recente, até comecei a gravar minha primeira composição (!), algo que nem posso dizer que sempre quis pq achava simplemente impossível.
fui observando os efeitos que essas práticas artísticas tinham em mim - e nas outras participante, que era algo que já observava desde as oficinas do RL, aliás - e decidi fazer a formação em arteterapia. vi que esse movimento era valioso demais pra ser algo paralelo e se tornou central em minha vida. estudo pra saber mais que botões a gente aperta dentro da gente quando se expressa através da arte - e poder cuidar melhor deles.
fui percebendo que criação/expressão/comunicação são um aspecto de saúde. pq quando alguém chega meio borocoxo e sai cheia de vida dos encontros conseguimos ver que algo muda dentro da gente quando criamos.
quero estar cada vez mais preparada pra poder oferecer com cada vez mais lastro estes espaços. sinto que esse é o meu caminho. vários dos encontros do Ninho são os momentos em que eu me sinto mais viva. que sinto que estou entregando do meu melhor para o mundo.
por isso (tudo) é uma alegria celebrar mais 1 ano de existência do Ninho, torcendo pra que, como projeto, ele siga existindo por mais vários, mas sabendo tbm que - seja como for - ele já existe pra sempre dentro de mim e das pessoas que passam por ele.
encerro por aqui, celebrando a existência do projeto e a de todas as pessoas envolvidas, e aproveito pra te convidar a conhecer mais do Ninho, e quem sabe participar também.
no grupo que eu conduzo às segundas, que ainda se chama Ninho de Escritoras, mas está aberto pra todes que se sintam confortáveis com protagonismo feminino, estamos investigando uma emoção por mês. a cada encontro eu proponho uma prática de escrita a partir da emoção do mês pra gente olhar pra ela de diversas formas e reescrever nossa relação com ela. a da vez é a vergonha, vamos até o fim de agosto nessa. as próximas emoções vamos decidindo juntas a cada encontro. chega mais que tem vaga pra entrar.
um beijo
se cuide. escreva, se puder.
saidera
aquele momento do último gole, pra esticar a festa mais um tantinho, e onde eu convido mais gente pra entrar na roda apresentando pessoas pra vocês.
só que hoje não vou indicar ngm de fora da nossa rodinha não, vou te convidar a espiar e, se quiser, participar da conversa do post fórum que mandei na outra semana.
eu adorei essa experiência e as trocas! um e-mail escrito junto com todo mundo que comentou ali.
vou puxar outros papos assim mais vezes, com certeza. não se avexe não em comentar por lá, ou escrever direto pra mim no privado (recebi uma história de amor muito linda no inbox esses dias e eu amo receber coisas assim). eu demoro, mas uma hora respondo. o importante é a gente seguir na conversa ;)