“Quero ou não quero ser mãe?”
Essa pergunta me perseguiu por anos, causando muito sofrimento e dificuldades nas minhas relações.
E mesmo depois de me tornar mãe, a resposta ainda não é única.
E real é que eu nunca tive certeza de que queria ser mãe.
O sim ou o não nunca estiveram na ponta da língua quando alguém me perguntava sobre o meu querer ser mãe.
Será então que eu queria? Ou não queria?
Até que aprendi com a Geni Núñez que, quando a gente tem dificuldade em encontrar uma resposta, muitas vezes o problema tá é na pergunta.
Algumas perguntas vêm carregadas de tanto significado que não tem como uma resposta genuína sair delas.
Então, no caso da maternidade, antes de encontrar "a" minha resposta, eu vi que precisava investigar o que ser mãe significava pra mim.
Afinal, tornar-se mãe não é só uma questão biológica. É uma construção simbólica, social, cultural — cheia de sentidos, contradições e paradoxos.
Não existe A maternidade. Existem maternidadeS. E cada mulher vai viver isso de um jeito — dependendo da cor da pele, da classe social, da orientação sexual, da religião, do lugar onde vive.
O medo de se arrepender. A perda de liberdade, de direitos, de tempo, do sono, da oportunidade de estar com as amigas, as dificuldades ampliadas no trabalho, as preocupações, as questões com o corpo, o descaso, a exaustão e a solidão maternas estavam no topo das ideias que vinham quando eu pensava em ser mãe e pesavam a balança total pro não querer ser mãe.
Acho que nenhuma mulher escolhe nada isso quando escolhe ser mãe.
Algumas escolhem a maternidade APESAR de tudo isso. Muitas outras vão descobrir que isso tudo faz parte da experiência só na prática. Tantas vão ser levadas a acreditar que os fardos são parte intrínseca da experiência (não são). Outras vão ter alguns (nunca todos) desses pesos aliviados pelos caminhões de privilégios. E, por fim, várias vão ser obrigadas a levar esse pacote completo por não terem a opção da interrupção da gravidez indesejada garantida a elas.
Mas hoje já percebo que nenhuma dessas coisas, de fato, significa maternidade. Isso tudo diz respeito a como a sociedade encara a maternidade e não sobre a experiência em si.
Da minha pouca experiência tenho descoberto que existe a possibilidade da maternidade não ser apenas uma conta de subtração. Quando existe desejo e quando existe apoio ela tem muito mais chances de ser uma conta de adição, de multiplicação.
Mas que pra isso, a possibilidade de a mulher poder refletir sobre seus desejos, limites e necessidades, resgatar sua capacidade de pedir - ou exigir - o suporte necessário e seus direitos, faz toda a diferença em como a experiência de ser mãe será vivida.
Na minha prática, percebi que os medos e indecisões sobre maternidade são muito mais comuns do que parecem — mas quase nunca falados, nem nos espaços considerados seguros, entre amigas e, especialmente, familiares.
Por muito tempo, a única possibilidade pra uma mulher era ser mãe. Questionar isso era visto como desvio. Essa imposição histórica silencia o desejo, limita a criatividade e adoece — tanto as que são mães, quanto as que não são.
Durante os vários anos em que eu convivi com a dúvida do “quero ou não quero ser mãe”, senti muita falta de espaços pra elaborar esse tema de um jeito realmente aberto — a todas as possibilidades.
Eu sou a que não sabia se queria ser mãe.
A que já quis. A que hoje não quer mais.
E a que pode mudar de ideia.
Em mim, hoje, convivem todas versões.
E o que me ajudou a não paralisar diante das dúvidas foi poder olhar com profundidade pra essas perguntas.
Desenhar o medo. Rasgar a dúvida.
Criar espaço pra escutar o que eu de fato sentia.
Foi assim que nasceu o (des)construções maternas — um grupo arteterapêutico pra mulheres sem filhos que querem explorar seus desejos, medos e sonhos sobre a maternidade.
Porque dentre os recursos que eu encontrei pra lidar com essa questão, as práticas arteterapêuticas foram das que mais contribuíram pra eu alargar esses significados.
E conseguir investigar com profundidade o que ser mãe queria dizer pra mim.
Se eu ainda não tinha palavras pra conceber essa resposta, precisei de cores, tintas e texturas pra ir dando contorno pros meus desejos.
Foi muito importante dar forma e voz aos medos que apareciam — pra poder conversar com eles.
Eu me formei arteterapeuta enquanto elaborava essa questão.
E depois, enquanto gestava e maternava.
E por isso fez muito sentido concluir essa formação com um grupo de estágio que abrisse espaço pra oferecer essas práticas pra outras mulheres. Foi assim que o (des)construções maternas surgiu, em 2023.
Pensando na Mari do passado — e em como essa dúvida faz parte da vida de tantas mulheres no presente — vejo o quanto é valioso a gente criar espaço e tempo de acolhimento, pra que cada uma possa escolher suas próprias palavras, sons e cores pra falar de maternidade. Longe de julgamentos e convenções sociais, tanto quanto possível.
Pra achar o lugar do ser ou não ser mãe na sua vida.
Seja querendo ou não querendo. Se tornando ou não se tornando mãe.
Quero te convidar pra se dar essa oportunidade de refletir com qualidade e apoio, sobre uma das questões mais desafiadoras e transformadoras da vida de uma mulher, ser ou não ser mãe, nos seus próprios termos.
O (des)construções maternas está com inscrições abertas.
As informações estão aqui no meu perfil ou no perfil da Aline Dutra, minha parceira que facilita essa turma junto comigo.
E amanhã, dia 17, às 19h30, vai acontecer um encontro aberto, gratuito e online pra você poder sentir como funciona o grupo (des)construções maternas.
Se você sente que a pergunta — “quero ou não quero ser mãe?” — te atravessa, esse encontro é pra você conhecer mais de perto a nossa proposta e experimentar um gostinho das dinâmicas que fazemos em grupo.
Vamos contar como funcionam os encontros e estaremos disponíveis para responder dúvidas e acolher inquietações que surgirem.
Vem com a gente? Peça o link para participar respondendo a esta newsletter no oi@maripelli.com.br ou entrando no grupo de interessadas no whatsapp:
Você vai poder conhecer mais da proposta arteterapêutica e sentir se esse é um processo que pode contribuir com sua caminhada agora.
Vamos juntas?
Ao longo das últimas semanas, pra fazer com que a proposta do grupo chegue nas mulheres que podem se beneficiar deles, eu e Aline, minha dupla na condução deste grupo, fizemos uma série de conteúdos preciosos sobre o tema. Aqui estão alguns dos que eu considero valiosos pra quem está diante destas dúvidas:
Um beijo, até a próxima.
Com carinho,
Mari Pelli