tempo de escrita: 2 horas - criado e enviado no período fértil, primavera interna
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Para eu me formar arteterapeuta, só falta eu escrever o artigo.
Para eu me formar arteterapeuta, só falta eu escrever o artigo?
Para eu me formar
arteterapeuta,
só falta
eu escrever
o artigo.
Para eu me formar, só falta escrever!
Me formar, depende da escrita. Olha o peso que isso tem?!
Todos os outros processos que eu vivi — os aprendizados, as vivências, os estudos, as experimentações — dependem agora da minha habilidade de colocar em palavras para se tornarem conhecimento processado e pronto pra ser entregue ao mundo.
Depois de 4 anos me constituindo arteterapeuta na prática, experimentando no corpo, nos sonhos, nas dores, na voz e no fazer das mãos, agora preciso transformar tudo isso em palavra.
Não é curioso pensar que algo que nos forma, que nos constitui, passa pela escrita? E que às vezes a gente não valoriza ela com esse tanto de importância?
Bom, como pra me formar falta de fato, escrever, hoje vou tentar não me demorar tanto por aqui. Todo meu tempo de escrita tá dedicado ao artigo - que em breve quero compartilhar - mas não podia deixar de vir dividir essa reflexão que tá me perseguindo nos últimos dias sobre a nossa relação com a escrita.
Uma participante da Jornada Mergulho*, que acabou de começar, compartilhou no primeiro encontro algo que ressoou muito:
“A escrita sempre foi tão fundamental na minha vida que eu nem dava valor. Escrever faz tão parte do meu cotidiano que eu não achava que era importante.”
E aí eu deixo você com essa pulga atrás da orelha pra eu não ficar com ela sozinha: Cê tem valorizado suas palavras com esse nível de importância? Seu processo de transformar o que mora dentro de você em algo que possa passear pelo mundo, como que tá fluindo? O que mais você faz diariamente que é fundamental pra sua formação como pessoa que você tá deixando passar batido e não tá valorizando o suficiente?
(Aliás, a próxima Jornada Mergulho vai acontecer no verão e você já pode se inscrever pra ser avisada em primeira mão quando abrirem as inscrições!)
Muitas vezes algo que fazemos o tempo todo perde o brilho - e nesse caminho nossa a vitalidade pode ir junto - quando não a gente não bota atenção ou carinho no que é valioso pros nossos processos. A escrita pode ser uma delas.
A gente se comunica, compra, pede, oferece e interage em tempos de redes sociais, tudo por meio da escrita. A gente passa boa parte dos dias escrevendo. Mas gastamos muito menos tempo parando para refletir sobre a escrita.
Este mês, meu tempo de escrita vai ser dedicado ao artigo. E ter tido esse insight antes de me focar nessa escrita que eu preciso fazer já me deu uma outra noção da importância desse movimento. E aumentou meu desejo de evoluir nessa habilidade. De me soltar mais nas palavras pra alcançar mais corações.
O artigo está com o título provisório “Arteterapia: arte para iluminar os medos da maternidade.” e nele vou compartilhar meus processos pessoais com relação as minhas próprias dúvidas sobre maternar, minha caminhada como arteterapeuta, da minha formação como arteterapeuta, e as experiências que eu pude acompanhar das mulheres que acompanhei no estágio que eu fiz ano passado com o grupo (des)construções maternas.
É uma escrita que vai me levar pra conclusão de um ciclo importante, vai me lançar “oficialmente” numa nova profissão. Como que eu não vou valorizar essas palavras?
(Aliás, Eu e Aline estamos preparando uma nova edição do (des)construções que vai acontecer no ano que vem, para quem quiser também explorar os desejos e os medos de ser ou não se mãe. Quando estiver prontinho venho compartilhar o artigo e as datas pra você vir!)
Diante da escrita de algo damos importância, as vozes internas de autocrítica ficam ainda mais altas. E isso nos dá uma ótima oportunidade de trabalhar o nosso músculo da autoconfiança.
O medo de falhar ou de não sermos boas o suficiente aumenta na medida do valor que damos pra algo. E isso não é motivo pra gente desvalorizar o que faz, é o contrário! É nessa hora que a nossa confiança em nós mesmas é posta a prova. E quanto mais a gente tenha fortalecido o músculo do confiar na gente mesma, menos essas dúvidas vão nos bloquear e mais elas vão nos motivar a seguir. Quanto mais a gente tiver intimidade com o nosso fluxo criativo de ingerir-digerir-expressar (sempre ele, sempre vou voltar nesse ponto), mais a gente vai conseguir saber aonde precisa colocar atenção pra conseguir avançar.
É nessa hora também, que tudo que a gente tenha aprendido que possa nos ajudar a encarar a autocrítica de frente, pode ser colocado em prática. E, no meu caso aqui, vou dar um exemplo de como eu to fazendo pra superar um processo que eu tô buscando superar que é o processo da acumulação.
A acumulação, ao contrário da visão negativa que os programas que falam de casos extremos dos “Acumuladores”, é um processo muito fundamental, dentro da visão da análise psico-orgânica, pra gente conseguir ir pro mundo.
Dentro das etapas de desenvolvimento do bebê ao adulto, a acumulação é a fase em que a gente tá buscando acumular nutrição, afetiva e fisiológica, ou seja, colo e amamentação, pra conseguirmos dar os nossos próprios passos. E quando não recebemos nutrição adequada ou suficiente nessa etapa da vida, temos uma maior chance de ter dificuldade em conseguir ir pro mundo. E esse registro fica com a gente por toda a vida.
Até, é claro, que a gente tome consciência desse capítulo da nossa história e crie outras referências de nutrição - algo que sempre podemos fazer, com qualquer idade, independente do que nos aconteceu na infância, sempre bom lembrar. Aqui é muito menos sobre colocar peso e culpa na nossa história e mais sobre como ela nos conta pra onde a gente pode colocar nossa atenção pra poder avançar.
Esses processos vão se repetindo em cada micro ciclo de desenvolvimento que a gente vive. O que acontece no nosso macro ciclo de desenvolvimento, os acontecimentos que vão constituindo a nossa história desde que a gente é bebê até nos tornarmos semente, quando a gente morre, passando pelas nossas etapas como crianças - adolescentes - adultas -idosas - vai sendo refletido em tudo que a gente cria ao longo dos anos. E é isso o que nos dá a oportunidade de reviver e regenerar nossas experiências.
Num processo de criação de um projeto, por exemplo, a acumulação é a etapa em que a gente ingere referências e informações pra gente dar conta de materializar algo novo. É a ingestão. Então, é claro que faz parte buscarmos novas leituras e referências pra criar. Mas, se entramos num excesso de ingestão, como acontece com a comida, não conseguimos digerir o que foi absorvido para poder expressar depois.
Aí sim a acumulação vira um problema. Quando essa busca vira uma saga eterna que nos afasta da sensação de saciedade de estarmos prontas. Se achamos que precisamos ler toooodos os livros sobre o assunto, fazer mais um curso, ver todos os posts daquela pessoa que a gente admira, pra gente pode estarpronta pra fazer algo, podemos sim estar presas nesse processo de acumulação.
E é importante perceber isso pra conseguir superar esse padrão de comportamento que nos bloqueia e dar o próximo passo em direção a materializar o que a gente quer materializar.
Quando eu comecei a escrever o artigo, meu primeiro impulso foi esse: Vou reler e passar a limpo todos os meus cadernos da formação, reler os livros mais importantes que eu li nesses últimos anos e comprar os livros que não tenho sobre o tema e daí sim vou conseguir escrever o artigo.
Sabe quanto tempo isso ia me levar? Provavelmente mais 4 anos, o tempo de uma nova formação. E agora eu tenho só mais um mês pra escrever esse artigo.
A estratégia que me ajudou a encarar essa armadilha de um jeito diferente foi a seguinte: peguei o roteiro do artigo, que a Incorporarte - instituição de ensino onde estudo - ofereceu, e me propus, em 1 hora, a preencher todos os tópicos exigidos com o que eu conseguia me lembrar de cabeça. Só valia assim o que me viesse à mente. Me provoquei com um: Se eu não pudesse consultar absolutamente nada, o que eu escreveria neste artigo? E assim, consegui preencher todas as perguntas! Eu já tenho 4 páginas escritas, de 20 que eu preciso escrever. Isso me ajudou a construir a noção de que o que eu sei é suficiente. Deixei de sentir que preciso consumir mais, e agora sinto que só preciso fundamentar o que já está absorvido. Eu tenho um roteiro e aí fica muito mais fácil eu caminhar na construção desse texto.
Claro que vou precisar fazer consultas nos meus cadernos e livros, talvez inclua uma ou outra referência que eu não tenha lido até agora, mas agora eu tô partindo de um lugar que já tem uma direção. Não preciso acumular mais informações de forma tão ampla. O foco fica mais claro e com isso sei que vou conseguir me desgastar menos com essa escrita.
Quais os outros desafios do processo criativo vou enfrentar até conseguir concluir o artigo? Não sei. Só sei que a data da apresentação dos artigos, o meu e o das minhas colegas de turma, já está marcada e até lá vai nascer o melhor artigo que eu conseguir fazer com o que eu tiver absorvido. Se você quiser estar lá pra ver, vai ser dia 5.12 às 15h! Mais perto envio o convite com link e tudo mais ;)
E já que eu to colocando meu músculo da confiança a prova pra valer, e ficando bem orgulhosa do quando ele ficou forte nos últimos anos, esse fim de semana também me re-lanço em uma nova empreitada:
Tô de volta a oferecer oficinas de escrita presenciais com a maior alegria, porque dessa vez vou estar propondo criar um espaço exclusivo pra aninhar as palavras das mães.🥲
Fazem cinco anos que não conduzo esses encontros presencialmente. Antes da pandemia, era um dos trabalhos que eu mais amava fazer. Durante a pandemia, fazer as oficinas on-line foi o que me salvou em muitos momentos desses 2 anos de isolamento. Foram esses trabalhos, inclusive, que me fizaram buscar a arteterapia. Foi apoiando as mulheres com suas escritas que senti que precisava ter mais embasamento pra poder levar as pessoas a lugares mais profundos com responsabilidade.
Há anos a maior parte das mulheres com as quais trabalho são mães. Sempre me senti muito honrada por poder oferecer um espaço de cuidado para as mulheres mães olharem para si próprias nas minhas oficinas. Mas também sentia que eu não conseguia alcançar totalmente a complexidade dos processos da maternidade e que eu não tinha o tal lugar de fala - e não tinha MESMO - pra endereçar tanta profundidade. Eu não entendia o tamanho da importância desse espaço antes de me tornar mãe. Agora eu entendo.
Eu não tinha como compartilhar e oferecer essa criação de vínculo com as dores e delícias da maternidade antes de ser mãe, afinal de contas. Agora eu tenho.💪
Durante o Festival Confluir, vamos criar juntas um ambiente acolhedor para práticas de escrita e partilha. Isso mesmo, no meio de um espaço comercial, em público, vamos mostrar que é possível preservarmos o espaço pra cuidar de nós, mães. Se você é mãe e está em Floripa, topa vir comigo?
A oficina "Palavras do Peito” vai acontecer no Oka, no próximo domingo, dia 27/10, das 14h às 17h. A participação é gratuita e você pode garantir sua vaga se inscrevendo por aqui:
antes de eu ir embora:
escrevo com quem conversa
Reverberando conversas e coisas que me impactaram nos últimos tempos.
Fui me colocar pra respirar junto com outras pessoas no Festival Social Good Brasil, abraçar amigos queridos, e voltei regenerada. Tudo que me inspirou e fez o coração bater mais forte tá destacado nesse post aqui ó:
SGB, obrigada por mais de uma década de inspiração!
E você, muito obrigada pela leitura até aqui.
Até a próxima.
beijos
Mari Pelli