escrevo como quem brinca
tem uns minutinhos pra brincar hoje?
tempo de escrita: 5 horas
tempo de leitura: 7 min
(dá pra ouvir por aqui)
oie :)
espero que este email te encontre quentinha e com saúde <3
por aqui os dias esfriaram beeem e sigo sobrevivente de uma pandemia mundial. se vc está me lendo hoje também é. e sempre vale lembrar que isso não é qq coisa, não é mesmo?
há algumas semanas, no Ninho de Escritoras, estávamos precisando nos reconectar - com a escrita e umas com as outras. então, fomos brincar.
afinal de contas, tem coisa melhor que brincar pra acender conexões?
as crianças tão aí para nos dizer (e aquela que ainda mora dentro de você também sabe), afinal, é brincando que as amizades começam e fluem.
na infância a gente se comunica com o mundo desse jeito brincante. imaginamos, interpretamos e nos divertimos com total espontaneidade.
então a vida vai passando, a gente vai endurecendo e acabamos perdendo a fluência nessa linguagem. mas, ela tá aí, e pode ser retomada sempre. é só lembrar que a brincadeira é, antes de mais nada, uma linguagem.
mas, e qual é o espaço da brincadeira na escrita?
eu acredito que qualquer escrita pode ser levada na brincadeira.
mesmo a escrita mais técnica ou com o prazo mais apertado pode ser vivenciada assim. a nossa forma de estar diante do papel e da caneta conta mais do que o conteúdo da escrita pra criar leveza ou tensão nessa hora.
quando a gente tenta acertar, sem se permitir experimentar algo novo ou rir de algo que saiu de um jeito inesperado, nos fechamos para brincar com as palavras. e pode-se dizer sem medo que a escrita é apenas um grande jogo de palavras.
agora, pensa aqui comigo: se a brincadeira gera conexão e a gente deixa ela de fora na hora de escrever, que que acontece com a escrita? graaandes chances dela também não gerar conexão com quem está lendo, nénon?
eu sei que é difícil pensar em brincar quando o frio na barriga tá grande ou quando a voz da crítica tá berrando dentro da nossa cabeça. mas, nessas horas que tal experimentar brincar um pouco? ou, talvez praticar essa brincadeira num momento menos decisivo pra ter mais fluência quando encontrar com um desses pela frente?
te convido hoje pra escrever-brincar comigo, topa?
pega aí um papel e caneta, encontra um apoio pra escrever e vamo nessa.
você pode ouvir as instruções que gravei aqui e ser guiada por áudio na brincadeira ou seguir o passo a passo por escrito aqui.
esse jogo que tô te propondo hoje fizemos inspiradas na brincadeira do Troca, que descobri no espetáculo de improviso dos Barbixas. nela, os atores da cena, a cada vez que ouvem o narrador falar “troca”, precisam mudar o que estavam interpretando para algo diferente do que estavam fazendo até ali (vale a pena ver o vídeo pra sacar a dinâmica).
como se trata de uma cena de teatro de improviso, alguns elementos se perdem quando a brincadeira vai pra escrita. ao mesmo tempo, muitos outros surgem e a gente pode ousar até mais nas trocas por não estarmos limitadas em espaço físico real. minha dica é: se jogue nessa ousadia aí contigo mesma.
trago também alguns textos que nasceram a partir dessa nossa brincadeira pra você ver se consegue identificar em que momento rolou o “troca” em cada um deles.
além de ter sido uma noite bem divertida, percebemos que brincar nos fez:
levar o texto pra visitar outros ambientes, não imaginados no começo.
escrever de formas bem mais inusitadas. (uma cena pode começar super fofa e numa “troca” se tornar uma tragédia.)
criar finais mais inesperados.
investigar o cerne de algumas questões, se cada troca a gente for olhar mais a fundo para o que estava escrevendo antes (o texto da Mathizy exemplifica bem isso).
escrever textos sobre indecisão. (cada troca pode ser a mudança entre uma opinião e a outra, por exemplo. não precisa ser sempre uma coisa totalmente nova).
escrever como quem faz uma colagem de várias cenas recortadas numa sequência inusitada, mas com alguma lógica.
perceber como limites externos podem ser libertadores do compromisso com o próprio texto.
e perceber que de início, alguns elementos parecem totalmente desconectados, mas com alguma edição eles podem ficar bem encaixados e interessantes no texto final.
fico sempre encantada quando um exercício de escrita acaba ajudando em outras áreas da vida e esse foi mais um desses casos. desenvolver jogo de cintura diante das coisas que nos pedem um “troca” - de atitude, de ação, de ideias - na vida pode dar malemolência para gente lidar com situações reais onde precisamos improvisar, por exemplo.
a cada mudança no texto o que fizemos? paralisamos? nos jogamos? precisamos de um tempinho pra pensar? nos percebemos apegadas ao que tínhamos planejado antes?
sem certo nem errado, perceber as nossas reações a esse exercício é algo que podemos investigar e aprender muito sobre nós, de quebra.
a escrita, assim como a brincadeira, nos permite ter uma vivência em que podemos reconhecer o que acontece quando somos convidadas pras experiências mais diversas. a brincadeira, sendo uma delas :)
adiciono a esse papo a recomendação do documentário Tarja Branca, que é lindíssimo e mostra o quanto brincar é urgente, e também o projeto Versinhos de Bem-Querer, em que você pode entrar na brincadeira de jogar versos e ainda contribuir para espalhar a alegria e a beleza da cultura do Vale do Jequitinhonha através das palavras.
na próxima quinta, dia 13 de maio, temos encontro marcado às 20h, no lançamento do livro Memento Mori. escrito por 18 pessoas que toparam o desafio de escrever a partir do tema e revelar a potência de olhar para o fim e continuar criando mesmo assim. pra participar é só acessar a sala no seguinte link: https://us02web.zoom.us/j/89599466724
nos vemos lá?
um beijo!
aproveito pra lembrar que você pode responder esse e-mail pra gente seguir aqui no papo. vou adorar ouvir o que você está achando dessas cartinhas.